
LIVROS
A colaboração de escritoras para estudos e reflexões sobre a ditadura civil-militar e o recorte de gênero na repressão.
A Torre: O cotidiano de mulheres encarceradas pela ditadura
por Luiza Villaméa

Uma lição de resistência, solidariedade e amor à vida que um grupo de presas políticas foi capaz de produzir em reação à violência da ditadura.
A partir de 1969, uma torre centenária - encravada no Presídio Tiradentes - foi o destino de dezenas de mulheres enclausuradas por motivação política durante a ditadura militar no Brasil.
Em A Torre, a jornalista Luiza Villaméa apresenta um panorama de quem eram essas presas políticas e de como sobreviveram às terríveis condições que lhes foram impostas, mostrando como elas se organizavam no dia a dia, como se relacionavam entre si, com agentes da repressão e com pessoas do lado de fora - além de expor uma rotina que se contrapunha firmemente à brutalidade da situação.
Numa prosa sensível à inteligência e à singularidade de cada uma das presas, a autora reconstitui o esforço dessas mulheres para criar um ambiente solidário e criativo que resistia, em tudo, à violência a que foram submetidas por um regime autoritário, composto basicamente por homens.
Outros Cantos
por Maria Valéria Rezende

"As esperanças levadas por mim naquela primeira viagem eram muito maiores e mais curtas do que as de agora, cujo sopro me fez embarcar neste ônibus.
Para falar de esperanças me chamaram de novo ao sertão e vou pensando que as minhas mudaram e se tornaram muito mais modestas e pacientes do que antes, talvez envelhecidas como eu. Começaram a mudar naquele dia, quando, pela primeira vez, me meti nesta paisagem áspera e espinhosa."
Numa travessia de ônibus através da noite, Maria, uma mulher que dedicou sua vida à educação de base, entrelaça passado e presente para recompor uma longa jornada de dificuldades, mas também de aprendizagens e amizades que nem mesmo a distância do tempo pode romper. Numa narrativa fluida, conhecemos personagens cativantes, do México à Argélia, da França ao sertão mais profundo do Brasil. Outros Cantos é um romance magistral, sobre as viagens movidas a sonhos.
As mulheres como operárias da violência no contexto da ditadura civil-militar brasileira
por Lívia do Amaral e Silva Linck

O presente trabalho tem o intuito de evidenciar, a partir da análise dos papéis de gênero frente a uma sociedade machista e patriarcal, o papel das mulheres como operarias da violência, principalmente diante do autoritarismo imposto pela Ditadura Civil-Militar brasileira (1964-1985), distanciando-se da perspectiva do gênero masculino - como é costumeiro de se vislumbrar e de se estudar – como único operário da violência no âmbito da Ditadura Civil-Militar brasileira.
Nesse ínterim, pretende-se demonstrar que as mulheres também tiveram papel ativo à época da Ditadura Civil-Militar brasileira, fossem elas perpetradoras, facilitadoras e/ou espectadoras da violência.
Nesse viés, elas vieram para demonstrar a importância do gênero feminino perante os mecanismos de violência, como, por exemplo, a propagação de torturas e de assassinatos a partir da conjuntura histórica, política e social da época.
O Corpo Interminável
por Cláudia Lage

Em busca de suas origens, Daniel tenta reconstruir a história da mãe, uma guerrilheira desaparecida na Ditadura Civil-Militar no Brasil.
As tentativas de reconstruir a sua história pessoal junto à história do seu país e os fios de memória rompidos moldam a narrativa.
Ao buscar a história da mãe, surgem outras histórias, ou outras possibilidades de histórias, também desaparecidas, de tantas mulheres.
Claudia Lage fez um livro sobre a ausência e sobre a escrita, essa (im) possibilidade de se reinventar e se refazer por meio das palavras.
Heroínas desta História
Orgs - Carla Borges e Tatiana Merlino

Este livro dá voz a mulheres silenciadas há muitos anos. Mulheres que fazem parte da história brasileira, mas cujas trajetórias permanecem tão pouço conhecidas quanto o período no qual seus caminhos, embora distintos, se cruzam: a ditadura civil-militar.
Se ainda resta muito a esclarecer sobre as violências cometidas pelo Estado brasileiro durante o regime militar, muito mais falta revelar sobre as mulheres que estavam ao lado daqueles que tombaram. São mães, irmãs e esposas de pessoas que se posicionaram contra o autoritarismo de diferentes maneiras e que por isso foram perseguidas, torturadas e assassinadas.
Mulheres que não se calaram, nem durante a ditadura nem em tempos ditos democráticos.
Arquivos, democracia e ditadura
Orgs - Inez Stampa, San Romanelli Assumpção, Cristina Buarque de Hollanda

Esquecer, recusar-se a lembrar, reinventar o passado para eliminar o fato de que houve violações graves dos direitos humanos são tendências perigosas em tempos perigosos.
Felizmente, a doença nacional que se instalou nos cantos mais distantes do país não diminuiu a vontade de outros de se lembrar, de documentar, de contar. É isso que torna este livro tão incrivelmente importante nesta encruzilhada crucial, em que o futuro parece tão nebuloso.
O Centro de Referência Memórias Reveladas tem sido um instrumento fundamental para lembrar o passado recente do Brasil, que muitos querem apagar ou esquecer.
Como as organizadoras da obra argumentam corretamente, o esforço para coletar, preservar, disseminar e interpretar os documentos da ditadura é uma maneira de afirmar
a democracia, ou seja, o oposto do regime que dominou o país por 21 anos. - Do prefácio de James Green.
Do hábito à resistência: freiras em tempos de ditadura militar no Brasil
por Caroline Cubas

Este é um trabalho sobre freiras em tempos de ditadura militar. Por mais que apresente desdobramentos, relações e possibilidades, todos estes elementos voltam-se aqui ao exercício de compreensão da vida religiosa feminina ativa em um período de transformações culturais, institucionais e, especialmente, de embates político-sociais.
O título, “Do hábito à resistência: freiras em tempos de ditadura militar no Brasil”, anuncia as principais proposições. Não é nossa intenção opor o hábito ao ato de resistir, mas, ao contrário, apresentar imbricações. A referência ao hábito sugere tanto aquele construído durante o processo de formação religiosa, as práticas, costumes ou o "jeito de freira" , parafraseando Miriam Pillar Grossi;' quanto às vestes religiosas, que durante séculos foram obrigatoriamente utilizadas por aquelas que se dedicavam à vida institucionalmente atrelada à religião católica. Ambos os hábitos foram submetidos a transformações e ressignificações, especialmente a partir do início da década de 1960, com a realização do Concílio Vaticano II (CVII). Os documentos publicados a partir das reuniões conciliares propunham mudanças, dentre as quais citamos justamente a possibilidade de abandono gradual do hábito religioso como forma de promover uma maior aproximação entre religiosos, religiosas e fiéis.
Mulheres contra a ditadura
por Eurídice Figueiredo

A ditadura deixou um campo minado no Brasil e as bombas continuam explodindo, sob as mais variadas formas. A repressão de ontem reverbera até os dias de hoje. Escrever é um ato de resistência e a força da escrita poética reside no seu caráter transgressivo. Às vezes, é preciso chocar para abalar os alicerces da inércia do conservadorismo. Ao escrever sobre a ditadura, nós testemunhamos em nome dos mortos, fantasmas com os quais conversamos, visando a falar para os mais jovens, as crianças ou os nem nascidos. Para que eles conheçam a nossa história. Receber e transmitir as vozes que não puderam falar imediatamente, pela dificuldade de se expor, ou as vozes das novas gerações, que se posicionam nessa corrente de mulheres combativas, este é um gesto de hospitalidade.
Torre das guerreiras
por Ana Maria Ramos Estevão

1970, São Paulo, Presídio Tiradentes: na ala dos presos políticos, as mulheres eram encarceradas num prédio alto, conhecido como a Torre das Donzelas. Foi lá que Ana Maria Ramos Estevão, estudante de Serviço Social envolvida com o movimento estudantil e a organização Ação Libertadora Nacional (ALN), passou nove meses de sua vida. Semanas antes, havia sido capturada pelos órgãos de repressão da ditadura brasileira, passando por torturas e interrogatórios. Ao longo de sua trajetória como militante, conheceu tanto os agentes do regime, como o delegado Sérgio Paranhos Fleury e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, quanto seus oponentes, como Paulo Freire, que se tornaria referência mundial em educação, e Dilma Rousseff, presidenta do Brasil três décadas depois. Este livro reúne as memórias de uma mulher que subverteu a delicadeza das "donzelas", vivendo como guerreira num dos períodos mais sombrios da História do Brasil.
Brasil nunca mais
Org - Dom Paulo Evaristo Arns

As experiências que desejo relatar no frontispício desta obra pretendem reforçar a ideia subjacente em todos os capítulos, a saber, que a tortura, além de desumana, é o meio mais inadequado para levar-nos a descobrir a verdade e chegar à paz.
Não há ninguém na Terra que consiga descrever a dor de quem viu um ente querido desaparecer atrás das grades da cadeia, sem mesmo poder adivinhar o que lhe aconteceu. O "desaparecido" transforma-se numa sombra que ao escurecer-se vai encobrindo a última luminosidade da existência terrena.
O que mais me impressionou, ao longo dos anos de vigília contra a tortura, foi, porém o seguinte: como se degradam os torturadores mesmos. Este livro, por sua própria natureza, não pode dar resposta plena à questão,
Advertia um general, aliás contrário a toda tortura: quem uma vez pratica a ação, se transtorna diante do efeito da desmoralização infligida. Quem repete a tortura quatro ou mais vezes se bestializa, sente prazer físico e psíquico tamanho que é capaz de torturar até as pessoas mais delicadas da própria família
A imagem de Deus, estampada na pessoa humana, é sempre única. Só ela pode salvar e preservar a imagem do Brasil e do mundo.
Cães de guarda
por Beatriz Kushnir

A investigação, cuidadosa e inovadora, reconstrói em grande parte o universo dos próprios censores, por meio de extensas entrevistas tanto com esses, como com vários jornalistas. Traz à tona, portanto, a fala desse grupo conhecido pelo uso do lápis vermelho e da tesoura e sua face pouco vislumbrada. A pesquisadora explora a formação, as bases jurídicas e as diretrizes que orientavam o trabalho da censura, baseando-se em extensa pesquisa documental, além de entrevistas, inclusive com onze censores - aspecto inédito - cujo trabalho era "filtrar", na imprensa e nas artes, o que incomodasse o regime não só no campo político, como também na cultura e até no campo da moral. Outro foco do trabalho é a cumplicidade da imprensa, especialmente da Folha da Tarde - veículo onde trabalhavam vários militantes de esquerda até a época em que o jornal ficou conhecido como Diário Oficial da Oban (Operação Bandeirantes) - com o regime militar e seu aparelho repressivo: os diretores do jornal eram ao mesmo tempo funcionários da polícia, reconhecidamente. Eles mesmos confirmam em entrevistas. O livro toca num tema delicado, e indiretamente critica historiadores de renome que fazem a história da imprensa "esquecendo" o caso da FT. Cães de guarda explora os limites entre a censura, a autocensura dos jornalistas e a complicada convivência entre governo e imprensa durante a ditadura militar.
Cinema de arquivo - imagens e memórias da ditadura militar
por Patrícia Machado

A retomada da Comissão Nacional da Verdade é um livro neste momento com uma investigação inédita a partir das imagens e documentos da ditadura que ajudam a contar histórias ainda silenciadas, especialmente de perseguição ao campo da cultura, aos camponeses, aos exilados: a descoberta de uma rota clandestina de imagens que ligava Brasil, Cuba e França e que tinham que sair escondidas do Brasil para que fosse denunciado no exterior o que acontecia no país, os personagens envolvidos nesta rota clandestina, desde aqueles que filmam as manifestações de 1968 , como Eduardo Escorel e José Carlos Avellar, passando por Cosme Alves Netto que esconde as imagens na Cinemateca e provavelmente as envia pra Cuba, além de Chris Marker, que as recebe e realiza filmes pra denunciar o período.
Cinema de Arquivo (Editora Sagarana) traz toda essa história, tendo como base imagens e documentos variados. Fruto de um trabalho de pesquisa meticulosa – apoiada pela Faperj – em acervos públicos e privados, prontuários, relatórios e documentos da polícia política realizados Patrícia Machado, foi finalizado em 2016, no mesmo ano do golpe parlamentar, da retirada de Dilma Rousseff da Presidência da República, do crescimento da extrema-direita no país, acompanhado dos apelos de volta dos militares ao poder, cujos murmúrios iniciais foram ouvidos nas manifestações de 2013.
O livro propõe, além da reflexão sobre questões políticas contemporâneas e a percepção do presente, pensar a construção de memórias fundamentais para fazer frente ao esquecimento do que foi perpetrado pelos ditadores brasileiros de 1964 a 1985.
Confissões de um torturador
por Cleidi Pereira

Há livros imprescindíveis, e este é um deles, graças ao profissionalismo, à persistência e à coragem da jornalista que não se acovardou com a ameaça de ter seu pescoço torcido. Inacreditável, mas esclarecedor do que era a personalidade de seu entrevistado. Não há como deixar nas trevas da história um militar declarado judicialmente como torturador e reconhecido pelas vítimas que sobreviveram ao seu mortal sadismo.
No comando do DOI-Codi de São Paulo, um dos mais sanguinários aparelhos repressivos da ditadura militar, o oficial do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra é responsável por graves violações de direitos humanos e assassinatos a serviço do terrorismo de Estado.
O criminoso, que durante toda sua vida negou seus crimes, revelou-se por inteiro nas entrelinhas e nas contradições de suas respostas em sua última entrevista, agora publicadas em livro, como parte da luta pela verdade e pela memória contra a mentira e o esquecimento.
Conto da cela três
por Maria Amélia de Almeida Telles

Trecho da apresentação escrita por LUIZA VILLAMÉA, Jornalista e autora de “A Torre: o cotidiano de mulheres encarceradas pela ditadura”
UMA LAGARTIXA com nome, sobrenome, esperta o suficiente para transitar por diferentes celas e prisões só poderia mesmo percorrer os mais emblemáticos episódios da história recente do país. Criada ainda nos anos 1970, Lagartixa Linguaruda de Nascimento foi uma espécie de amiga imaginária de Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, nos obscuros tempos de tranca. Quando tudo parecia perdido, foi a companheira que ajudou Amelinha a preservar algumas de suas múltiplas marcas – a lucidez e o amor à vida.
Em Contos da Cela Três, Lagartixa Linguaruda de Nascimento não apenas sobe paredes e esgueira-se em frestas, como também surge na condição de personagem de relatos impagáveis. Cinco décadas depois de aparecer nas primeiras escrituras ficcionais de Amelinha, – confiscadas pela ditadura nos tempos de cárcere –, a personagem está de volta com uma atualidade incrível. O livro trata com fluidez temas complexos, do autoritarismo à relação entre crianças e pais aprisionados, da impotência diante dos algozes a preconceitos que continuam a assombrar o horizonte.
A linguagem e a narração dos contos, no entanto, fazem com que assuntos tão difíceis sejam desenvolvidos com clareza, até mesmo com uma certa leveza. Um dos trunfos de Contos da Cela Três é tratar com saudável deboche as figuras que encarnavam a repressão no mundo real. Embora a autora tenha sobrevivido a uma trajetória traumática e seja uma das vozes mais potentes a denunciar as atrocidades do período, a obra não deixa transparecer amargor. É o enveredar por uma nova forma de linguagem, em complemento aos livros, ensaios e artigos que já escreveu. É o lembrar do passado cruel com salutares doses de ironia.
Crianças e exílio
por Nadejda Marques e Helena Dória Lucas de Oliveira

Nesta coletânea, Crianças e exílio - Memórias de infâncias marcadas pela ditadura militar, há 46 testemunhos. Há textos de crianças que tiveram o pai ou mãe e pai assassinados. Há narrativas de crianças separadas das suas famílias ou que integraram os grupos dos presos políticos trocados por diplomatas. Há eventos históricos narrados pelo olhar de crianças: golpes de Estado, prisões, experiências de fugas constantes, viagens. Há encantamento pelo Brasil e também medo dele. Há apreço à leitura e ao saber. Há poesia.
Ilícito absoluto
por Pádua Fernandes

Nesta coletânea, Crianças e exílio - Memórias de infâncias marcadas pela ditadura militar, há 46 testemunhos. Há textos de crianças que tiveram o pai ou mãe e pai assassinados. Há narrativas de crianças separadas das suas famílias ou que integraram os grupos dos presos políticos trocados por diplomatas. Há eventos históricos narrados pelo olhar de crianças: golpes de Estado, prisões, experiências de fugas constantes, viagens. Há encantamento pelo Brasil e também medo dele. Há apreço à leitura e ao saber. Há poesia.
Luta, substantivo feminino
Orgs - Tatiana Merlino e Igor Ojeda

Além do registro da vida e morte de 45 mulheres brasileiras que lutaram contra a ditadura, este livro inclui o testemunho de 27 sobreviventes que narram com impressionante coragem as brutalidades das quais foram alvo, incluindo quase sempre torturas no âmbito sexual, alguns casos de partos na prisão e até episódios de aborto. Esses depoimentos das sobreviventes da tortura estão distribuídos ao longo do livro, entremeados das histórias das 45 mulheres mortas. Alguns boxes explicativos fornecem informações pertinentes às narrativas. Os textos introdutórios de cada capítulo buscam resumir o contexto de cada fase da repressão política. O artigo “Resistência e dor”, de Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes, focaliza aspectos da subjetividade hedionda da tortura, bem como a força decisiva das mulheres na luta para superar esse triste período da nossa vida nacional.
Memórias da resistência
Orgs - Janine Gomes da Silva, Cristina Scheibe Wolff e Joana Maria Pedro

Este livro é resultado de anos de pesquisas sobre as ditaduras e os feminismos no Cone Sul. Ele retrata um período de terrorismo de Estado e a resistência que as mulheres protagonizaram em diferentes países do Cone Sul, como Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. O contexto de cada país definiu as formas de luta, e a trajetória destas lutadoras mostra a potencialidade de suas ações como militantes, integrantes de organizações políticas, clandestinas, exiladas, torturadas, etc. As experiências de vida de várias delas estão retratadas nesta obra, dividida em sete capítulos.
Mulheres na luta armada: protagonismo feminino na ALN
por Maria Cláudia Badan Ribeiro

Mulheres na luta armada: protagonismo feminino na ALN (Ação Libertadora Nacional), de Maria Cláudia Badan Ribeiro, chega preenchendo algumas lacunas importantes para o estudo e compreensão dos anos e atos de resistência à ditadura de 1964. Houve um momento em nosso país em que a única oposição aberta ao sistema eram as ações armadas de guerrilha urbana, desencadeadas a partir de 1967 até 1973, seis anos de enfrentamento frequentemente ignorados pela história oficial. Seja escrita pela direita, seja pela esquerda institucional. Geralmente os relatos e análises do período falam do golpe de estado, das lutas estudantis, chegam à passeata dos cem mil e à promulgação do AI-5, pulando descaradamente para as lutas pela anistia e as greves do ABC no final dos anos 70, e a chamada redemocratização. Os anos de luta armada ficam escondidos atrás das denúncias de torturas, assassinatos e desaparecimentos, e nada se fala da luta de Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira, Ana Maria Nacinovic e milhares de outras mulheres e homens que deram suas vidas pela liberdade enquanto muitos se dobravam à tirania. As mulheres que lutaram contra a ditadura romperam com a sociedade e com suas famílias que as queriam casadas, recatadas e do lar, e foram conquistar seu espaço no mundo. Muitas vezes isso fica oculto pelas lutas feministas europeias e estadunidenses tão importantes nos anos 70. Maria Cláudia com seu livro resgata a história da ALN, escondida pela vitimização da luta, e ao mesmo tempo expõe as vidas tão pouco contadas das mulheres brasileiras que pegaram em armas contra a ditadura
Quase Nuvem
por Maria Lívia Nobre Goes e Sérgio de Carvalho

Em outubro de 1970, auge da repressão da ditadura civil-militar no brasil, um grupo de mulheres encarceradas na ala feminina do presídio Tiradentes, conhecida como "Torre das Donzelas", encenou um espetáculo teatral em homenagem a Che Guevara.
Àquela altura, com o AI-5 e o avanço da censura e das perseguições, algo que parecia impossível de ser feito num teatro teria ocorrido dentro de uma prisão, sob a custódia dos militares.
Aquela montagem espelhava a força da cultura na formação de uma consciência política radical durante os primeiros anos do regime militar, ao mesmo tempo que servia como elemento de agregação e resistência.
Sombras da repressão
por Matilde Leone

O livro busca resgatar um pedaço da história do Brasil, narrando a história de Felipe, um jovem mexicano, que vem ao Brasil, para o interior paulista, onde começa a juntar os fragmentos da história de Madre Maurina Borges. A Madre, vítima da repressão militar, junto com outros prisioneiros políticos, foi trocada pelo cônsul japonês que fora sequestrado por guerrilheiros urbanos da Vanguarda Popular Revolucionária, e expulsa do país. Passou um tempo no México, e regressou ao Brasil, nos anos 80, em busca de tratamento médico. A mistura de história e ficção dá mais vivacidade ao relato e prende a atenção do leitor do início ao fim.
Torturadores
por Mariana Joffily e Maud Chirio

A descoberta do perpetrador como tema historiográfico, sobretudo o seu tipo mais extremo – o torturador profissional a serviço do Estado – vem se consolidando no Brasil, mas ainda é um campo de conhecimento a ser ampliado. Tema difícil e indigesto, que desafia as bases éticas da pesquisa, é, ao mesmo tempo, um tema urgente e fundamental para a luta por verdade e justiça.
Neste livro, Mariana Joffily e Maud Chirio, duas historiadoras referenciais para o estudo da ditadura, apresentam um corajoso perfil coletivo dos agentes que atuaram diretamente na repressão aos opositores do regime militar. As autoras nos oferecem um livro fundamental para conhecer os mecanismos de funcionamento da repressão e as cadeias sociais e institucionais do terror de Estado, sempre evitando o risco de validar, ainda que involuntariamente, o ponto de vista de ações sempre abjetas dos torturadores.
Ancoradas em diversas fontes e em metodologias rigorosas, sem nunca ultrapassar os limites éticos e epistemológicos da historiografia, elas jogam luz no porão do regime.
Na verdade, a tortura e o torturador talvez nunca tenham sido, de fato, habitantes de um “porão”, mas o elo mais vil e violento de um sistema repressivo complexo, burocrático e institucionalizado. Nem por isso, menos perverso.
Volto semana que vem
por Maria Regina Pilla

”Volto semana que vem” é o que a narradora deste livro responde ao pai ao sair de casa num dia de 1970, quando ele pergunta, espantado, aonde ela vai. “Mais de dez anos se passaram até eu voltar àquela cozinha”, conclui ela em seguida. Composto por recortes de memória, o livro é o retrato de uma vida brasileira exemplar: a de quem foi criança logo depois da Era Vargas (o dia do suicídio de Getúlio é uma das primeiras cenas evocadas aqui), cresceu nos tempos de Juscelino, foi jovem com a ditadura, militou com a esquerda, conheceu a prisão, a tortura e o exílio. Apesar da violência de boa parte das lembranças que compõem essa vida, o humor e a percepção do sabor das coisas transformam o que poderia ser amargura numa luminosa declaração de alegria irredutível. Porto Alegre está presente nos primeiros quadros, das décadas de 1950 e 60 -- o bairro do Partenon, o bonde, o Grupo Escolar, a Faculdade de Direito. Depois vêm as décadas tumultuadas de 1970 e 1980, das prisões e da tortura, do heroísmo, da utopia e da derrota: a Oban em São Paulo, as prisões de Olmos e Villa Devoto em Buenos Aires, os companheiros militantes. Em seguida o exílio na França: verão em Montmartre, o encontro com outros exilados, a vida prossegue. Fechando o círculo, Porto Alegre outra vez, nas memórias contemporâneas.
Vozes da resistência: ecos ditatoriais na literatura brasileira do século XXI
organizadora Gínia Maria Gomes

Os ensaios desta coletânea mostram algumas das faces da ditadura, as quais estão ausentes da história oficial. Eles dão voz a personagens caladas por um estado repressor. Os romances em que estão centrados recriam a atmosfera dos anos de chumbo, dando-lhe visibilidade e resgatando-a do esquecimento. As narrativas que esses ensaios contemplam mostram as faces apagadas da história oficial. Faces de uma época que urge rememorar para que seus fantasmas não continuem nos assombrando. Faces de personagens anônimas, ou não, que foram assassinadas por um poder repressor que calava as vozes dissonantes.
Não há um dia após o outro sem uma noite no meio
por Irmã Helena Soares Melo

A existência de Irmã Helena Soares Melo sempre foi pautada no espírito de doação à causa do Reino de Deus, arriscando a sua própria vida, como poderemos conhecer ao longo de sua história autobiografia retratada neste livro.
Este livro objetiva tornar conhecida a história de uma mulher que, desde muito cedo, aprendeu a amar e confiar em Nossa Senhora em todos os momentos. Sentiu o apelo de Deus para se consagrar ao seu Reino como Missionária de Jesus Crucificado, rompendo todos os obstáculos do caminho. Esta sua consagração ao Reino de Deus foi provada principalmente no período mais crítico da história de nosso país, o da Ditadura Militar, pois não temeu as perseguições, enfrentou as calúnias, fazendo um trabalho de evangelização e conscientização política dos jovens no norte de Goiás e no sul do Pará, bem como enfrentando pistoleiros e policiais na defesa dos posseiros que lutavam para permanecer em suas terras. Por causa deste trabalho acabou sendo presa, torturada e caluniada, juntamente com a Irmã Hélder Suarez Bedendo e o Padre Peter McCarthy. A sua narrativa desta experiência traumática faz parte das
"marcas da memória" que o Projeto de Anistia veio retomar. Trata-se do direito à memória.
O relato dessas experiências dolorosas também é uma forma de expressar a vitória sobre a dor e o trauma.
